domingo, 20 de abril de 2008

O Brasil não tem inimigos de guerra. Não temos Bin Laden. Ninguém quer nos atacar. Nossos inimigos são nossos próprios demônios internos. Estamos todos envolvidos numa nuvem de dor e indignação, o caso Isabella.
Na TV, nos rádios, nos jornais, nas ruas, o assunto é recorrente. Ininterrupto. Para a mídia do Brasil o caso Isabella assume a dimensão do 11 de setembro americano. Revemos as imagens sem parar. Ouvimos as informações repetidamente. E as perguntas ecoam o tempo todo, como abelhas na cabeça. Questionamos tudo, todos, insanamente.
Como pode um pai acobertar a mulher que assassina sua filha?
Que amor é esse?É por causa dos outros filhos?
Que pai pensa primeiro em proteger uma assassina a salvar a filha?
Que pai segura uma filha nos braços e joga-a pela janela?
Que pai pensa em salvar sua pele ao invés de salvar sua criança?
E se ela tiver usado o chinelo dele?
Ela teria sobrevivido se tivesse sido atendida naquela hora?
O que deflagrou a ira da madrasta?
O que fez Isabella ficar desacordada?
O que foi que eles combinaram?
Como a mãe conseguiu responder no Orkut no dia em que sua filha foi assassinada?
A família sabe o que aconteceu?
O casal contou o que fez para seus familiares?
Os advogados sabem a verdade?
O que vai acontecer?
Quer dizer que, o pai pensou que a mulher tinha matado Isabella e, ao tentar acobertar a assassina, jogou a menina pela janela tornando-se assim, sem saber, o verdadeiro assassino da própria filha?Queremos ver. Queremos saber. Queremos entender. Queremos vivenciar. Queremos conhecer nossos sentimentos pelos sentimentos dos outros. Porque o crime abalou nossos alicerces mais profundos, na questão mais crucial da vida, a continuidade da vida.
Porque um pai, uma mãe, não apenas colocam um filho no mundo mas continuam até a morte, dando a vida por eles. Pais e mães morrem para salvar seus filhos. Pais e mães não matam os filhos, não arremessam seus filhos, não pensam primeiro na própria salvação quando a vida do filho está em jogo. O caso Isabella é nosso 11 de setembro. Nosso inimigo, que bombardeia nossas crenças, é a transgressão do amor que nos mantém em pé, o amor entre pais e filhos. Quem ama não mata. Quem ama salva. E ninguém no nosso mundo real, na nossa crença e fé, pode matar a própria filha, uma criança pequena, indefesa. Quando um pai mata sua própria menina nada mais faz sentido. Eu também estou vendo a tv e não consigo parar. Não consigo sair de casa. Também preciso ver, sentir, refletir, saber, pensar. Uma parte de mim quer sofrer. Outra, quer ir trabalhar. Porque a vida continua. E o caso todo é sobre isso. Nossos filhos são a continuidade das nossas vidas.
Quem mata um filho, suicida-se. Com a agravante de continuar vivo para pagar.
in: querido leitor

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